Ação simbólica acompanhada de cânticos, palavras de ordem e ritmos de resistência.
Centenas de pessoas juntaram-se no Barroso para defender o território contra o projecto de mineração de Lítio a céu aberto, aparentemente patrocinado pelo Estado Português.
Há vários anos que esta luta contra a empresa Savanah Ressources decorre em terras do Barroso, e noutros lugares, desde a serra da Estrela, à serra da Arga, mas também em outros países do mundo como Chile e Ecuador, e Bolívia, onde recentemente ocorreu um golpe de estado que durou um ano, abertamente patrocinado por um dos homens mais ricos do mundo, que é dono de uma empresa de carros elétricos, a Tesla. Estas empresas de carros estão numa busca mundial por Lítio, o “ouro branco” que serve para fazer as baterias dos carros, telemóveis e outros aparelhos.
Numa tentativa de lucrar com a febre do lítio, o Estado Português disponibilizou, para estas empresas trans-nacionais, cerca de 20% do território para “prospeção” de lítio, e cerca de 10% para mineração. Estas montanhas e serras que contêm o tão procurado produto, situam-se muitas das vezes em zonas protegidas (parques naturais, rede natura, etc.) como é o caso da serra da Estrela, da Argemela ou da Arga, e como é o caso do Barroso, que foi classificado recentemente como Património Agrícola Mundial pela UNESCO. Estas proteções, oficialmente reconhecidas e afirmadas pelo Estado, não impedem totalmente que a mineração acontece, embora tenham sido defendidas sobretudo pelas populações locais, como forma de pressão contra o estado.
Ao longo do últimos anos ocorreram mudanças em Covas do Barroso, começando pela necessidade da população de se opor à mineração. Para isso formaram a ASSOCIAÇÃO UNIDOS EM DEFESA DE COVAS DO BARROSO. Elegeram a Presidente da Junta de Freguesia, Lúcia Dias Mó. Também elegeram Aida Fernandes como Presidente do Conselho Diretivo dos Baldios. Estas mulheres estão na frente da luta anti-mineração. É realmente uma prova de como as mulheres no poder são capazes de operar mudanças políticas significativas.
Os Baldios são uma peça importante do jogo: No Barroso há cerca de 2000 ha de Baldios. Grande parte das terras onde a empresa encontrou o lítio são terrenos Baldios. Isto significa que para poderem minerar nestes terrenos, a empresa necessitaria do apoio de toda a população, visto que Os verdadeiros e legítimos detentores dos baldios são os compartes. Os compartes são os residentes da região, ou seja, a população local. E das cerca de 100 pessoas que participam nas assembleias todas elas sem exceção são contra a Mina, tornando assim a vida extremamente difícil à empresa, no que toca ao acesso aos terrenos. Estes Baldios, liderados pela Aida Fernandes, são a fronteira que a empresa não consegue derrubar, e enquanto o “povo estiver unido”, realmente, “jamais será vencido”. Há claro, o perigo de uma mudança política. Se o povo estivesse de acordo, então seria fácil para a empresa obter as autorizações necessárias.
Os efeitos da mineração são incontáveis: Poluição generalizada, Ruído, Destruição da Terra e dos Ecossistemas, destruição das formas de vida existentes. Por isso o povo está cada vez mais unido, em defesa da vida, da terra, da biodiversidade, da água e das suas formas de vida. É necessário que as populações tenham poder de decisão sobre o que querem fazer com o território que habitam. Uma Mina no Barroso significaria a morte das aldeias envolventes, a destruição da Natureza, o empobrecimento geral de grande parte da população e uma derrota da democracia.
“A gente do Barroso está em luta pela defesa do território e do seu modo de vida frente à ameaça da mineração. Desde que nos apercebemos que a empresa Savannah Resources quer aqui fazer uma grande mina a céu aberto, temo-nos organizado e mobilizado para lhe fazer frente. Estamos cada vez mais alerta, comprometidos e conscientes que temos de parar este projeto de destruição.”
De 14 a 18 de Agosto centenas de pessoas juntaram-se em Covas do Barroso em defesa das serras contra a mineração. Este resgisto foi feito espontaneamente pela Materia Prima, ouvindo os sons da aldeia, seus habitantes e activistas que se mobilizaram nestes dias.
Não às Minas, Sim à Vida!
Captação de som e publicação: Miguel Cardoso (Matéria Prima)
Obrigada à Mariana, por ceder o equipamento de som.
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