Quem tem medo do poder popular? Comunicado sobre a violência policial apôs a manifestação do 1 de abril


O 1 de abril foi um dia histórico em que milhares de pessoas tomaram as ruas de Lisboa para reivindicar o direito de todas as pessoas a uma habitação digna.

No fim da manifestação, que decorreu de forma pacífica, as forças de (IN)segurança retiveram durante horas a duas manifestantes num supermercado, suspeitas de terem rabiscado uma parede durante a manifestação, bloqueando a entrada de pessoas e criando uma situação de tensão completamente desnecessária, desproporcionada e irresponsável.

As forças de autoridade demonstraram, mais uma vez, o que vemos em qualquer despejo, desocupação ou demolição: a policia a colocar a defesa da propriedade privada à frente da integridade física e moral das pessoas. A Stop Despejos não repudia somente o comunicado mentiroso emitido pela PSP, após ter raptado duas manifestantes, e intimidado dezenas de trabalhadorxs e clientes dentro de um supermercado. A Stop Despejos repudia a policia enquanto instituição cão de guarda do Estado e do capital, cuja maior ameaça é o poder popular.

Perante a concentração das muitas pessoas solidárias, que exigiam a libertação das companheiras, a única saída encontrada pela polícia foi a mesma de sempre: agressões e perseguições com bastonadas, e gás pimenta. Tivemos três pessoas feridas, uma delas jornalista.

Os media, que tanto querem dar visibilidade a casos de despejos, continuam a contribuir para esta manipulação da narrativa, criando falsas equivalências entre violência do opressor e reação do oprimido; entre o “vandalismo” de motas da polícia ou de estabelecimentos de empresas que enriquecem com a inflação e a crise da habitação, e a violência exercida pela polícia fortemente armada contra manifestantes.

Denunciamos a atitude irresponsável e abusiva dos polícias que detiveram (e não “protegiram”, como foi dito nos jornais) duas companheiras dentro de um estabelecimento comercial e que pôs em perigo dezenas de pessoas, incluindo manifestantes e outros polícias. Declaramos que a polícia não nos protege nem nos representa, enquanto continuar a trabalhar para defender um sistema baseado na desigualdade e na exploração. Se as forças de autoridade não são capazes sequer de garantir o exercício coletivo da democracia (que, na verdade, nunca foi o seu propósito) e de resolver uma situação de perigo por elas criada e escalada, a única solução que defendemos é a da abolição da polícia. Vamos continuar a gritar “Solidariedade acima da propriedade!”