Violência Policial e securitária num supermercado de Cedofeita, Porto


Primeiro testemunho

Estou numa esquadra de Cedofeita, no Porto.

Caso haja algum advogado que me possa dar mais dicas sobre isto, agradecemos.

Uma história num Pingo Doce de Cedofeita.

Um homem, só por acaso negro, foi agarrado com modos, completamente brutos, pelo segurança da loja que queria a mochila dele porque tinha roubado alguma coisa, sabemos agora que foi um champô nivea e um saco de ervilhas congeladas, o rapaz resistiu em dar a mochila, até que o segurança e vários funcionários e funcionárias, após muitas sapatada e empurrões, conseguiram que ficasse sentado chão, comigo e outra rapariga a dizer que pagavamos aquilo, a dobrar, triplicar, o que quisessem, e que não era necessário nada daquilo. De repente, como o rapaz se queria levantar, mas sempre seguro por funcionários, o segurança pega em dois carros de compras e ia dar na cabeça do homem. A rapariga e eu empurramos o segurança com força, as próprias colegas ajudaram,… Se ele fizesse o que ia fazer matava o rapaz. Estávamos revoltadas com o que estávamos a assistir e a dizer que a única coisa que poderiam fazer, era fechar as portas com o rapaz lá dentro e esperar pela polícia. Entretanto, entram uns, sem exagero, 12 polícias com coletes à prova de bala (mas quando cheguei à rua estavam várias carrinhas e carros da polícia. Parecia que tinha havido um assalto à mão armada ou coisa mais grave). Estávamos, uma rapariga e eu a dizer à polícia o que é que o segurança ia fazer ao rapaz, a polícia respondeu que não queria saber nada disso e começou a dizer para nos afastarmos. Insistimos, dissemos “não querem saber porque há muito racismo no vosso meio” um dos polícias, praí com 1,90m, levanta o cacetete, arrasta a rapariga e, com uma bruta de uma força empurra-a de cara contra a parede a pôr-lhe os braços atrás das costas prontos para ser algemada. A irmã põe a mão no braço do polícia a pedir para não lhe fazer mal,… Bom, a miúda ficou no estado que se vê nas fotos. O polícia desatou às cacetadas às pernas da miúda. De imediato tirou o colete que tinha o nome dele, entregou-o a uma colega e desapareceu. A rapariga está a ser interrogada, dizem eles vai ficar detida, entretanto chegou uma ambulância do INEM, levaram a rapariga para dentro da ambulância, passado uns 20 minutos ela entrou na esquadra já pelo pé dela. A irmã está a apresentar queixa do polícia que lhe bateu, do qual não nos dizem o nome, eu fui identificada e vou ser a única testemunha. Falei com um advogado, têm que soltar a rapariga que foi detida, a irmã tem de ir ao hospital e amanhã, porque hoje é feriado, tem de ir ao instituto de medicina legal.

Entretanto, mandaram o rapaz embora. Ouvi eu, o polícia ler-lhe um papel onde dizia o que ele tinha na mochila

“um saco de 500g de um produto congelado (ervilhas) e um frasco de champô de 400ml da marca Nívea.

Bom, devo dizer que estava muita gente contra o que o segurança ia fazer (dar com os carros no rapaz, que estava sentado e a ser segurado por outros funcionários) assim como com o tratamento que os polícias deram às duas irmãs. Sobrei eu, que quase levei uma tareia de um grupo de fulanas, todas da mesma família, com crianças inclusive, que me empurravam e diziam

“o homem só está a fazer o trabalho dele…

Ide pró C… Agora é tudo racismo…”

A rapariga é muito magra, olhem como ficou com as pernas atrás dos joelhos e com as nádegas.

Se puderem partilhar, é uma atitude em prole de uma luta contra as injustiças.

Segudo Testemunho

URGENTE

Gostava que me ajudassem a partilhar a minha história. Ontem, dia 15 de Agosto, fui ao pingo doce, onde assisti a um episódio e racismo por parte do segurança para com um sem abrigo que tinha roubado um shampo e um saco de ervilhas. Toda a gente indignada tentou separar o segurança do rapaz (porque para além dos empurrões contra a parede, contra o chão, etc… Ainda pegou em dois carros do pingo doce pronto para dar com eles na cabeça do sem abrigo). Eu, a minha irmã e uma senhora muito querida que aceitou ser minha testemunha, participamos na tentativa de separação, assim como outras pessoas, incluindo funcionários do pingo doce, e até nos oferecemos para pagar o que o rapaz tinha na mochila. No meio desta confusão toda, entram uns 10/12 policias na loja, com coletes anti bala, para além disto, estavam fora do pingo doce imensos carros da polícia e mais uns 15 agentes. TUDO PORQUE UM SEM ABRIGO ESTAVA A TENTAR LEVAR UM SHAMPO E UMA SACA DE ERVILHAS! Entretanto quando a polícia chegou, a minha irmã e a testemunha foram falar com um dos polícias para tentarem explicar o que o segurança estava a fazer. O polícia disse: eu não quero saber nada disso e empurrou a senhora e a minha irmã. Ao que a minha irmã não se calou. De repente, só vejo esse polícia a atirar a minha irmã contra a parede com muito força, que até bateu com a cabeça, e a começar a algema-la. Eu, em defesa da minha irmã, comecei a ir atrás do polícia a pedir que não fizesse isso, toquei lhe no braço e nessa momento ele pegou no cacetete e agrediu-me na parte posterior da perna esquerda (atrás do joelho), eu caí e ainda não satisfeito, comigo já no chão, deu-me outra pancada nas nádegas. Conclusão: a minha irmã foi acusada de resistência e coação, no relatório esse polícia disse que a minha irmã lhe tinha batido (MENTIRA). Eu fui apresentar uma queixa crime contra a pessoa que me agrediu, e na esquadra todos os amigos desse tão bom profissional me gozaram enquanto eu chorava, a dizer por exemplo: vê se disfarças melhor, não estás a mancar assim tanto, a rirem-se, e sempre a intimidarem-me. Recusaram-se a dar-me o nome do sujeito que me agrediu. Este foi o estado em que eu fiquei.

“Mais um episódio da história do supermercado Pingo Doce de Cedofeita.”

Esta é a porta do tribunal onde a rapariga que foi detida ontem se teve de apresentar hoje. Aqui estão, o polícia (à paisana) que com toda a brutalidade a atirou de frente contra a parede para a algemar e que, também com toda a brutalidade, bateu na irmã com o cacetete, primeiro nas pernas e depois já com ela caída no chão lhe continuou a dar com o cacetete nas nádegas, isto por a rapariga lhe pedir, a chorar, para não magoar a irmã. Estão também mais polícias à paisana, que também estavam presentes tanto na ocorrência do Pingo Doce, como na esquadra para onde nos levaram. Está também a gerente do dito super e do outro lado do passeio estava o segurança que armou isto tudo e que se não fossemos os presentes, tinha matado o ladrão das 500 gramas de ervilhas e 400ml de champô, com dois carros que pegou para lhe dar na cabeça, com ele no chão agarrado por outros colegas do segurança. (nunca é demais lembrar episódios destes). Estão também ali dois polícias fardados. Que também estavam na esquadra no dia anterior, e que, só por um acaso, foram convidados, por quem de direito, a sair do interior do tribunal, onde se tinham instalado junto da acusada que se encontrava sozinha lá dentro. Para que seria?

Estavam ainda, do lado oposto da rua, dois carros 112 da polícia, cada um deles com cinco elementos das forças de segurança pública da PSP, todos devidamente fardados de azul. Estavam ainda duas motas, também das forças de segurança pública com os devidos elementos, só que estes com farda preta, com coletes e tudo.

Pergunta que, obviamente, se impõe:

O que é que estavam estes elementos todos em pleno serviço, uma vez que estavam devidamente fardados e com os carros e motas de trabalho, a fazer ali? Estavam a guardar um colega que foi notificado para se apresentar no tribunal, tal como a rapariga, às 14h? Estavam presentes por solidariedade com o colega? Por solidariedade com a rapariga que foi detida? Ou por solidariedade comigo?

Bom, a certa altura, apeteceu-me tirar fotografias à via pública e depois à fachada de um edifício público, o tribunal, (algumas delas que anexo na publicação). Coisa que não me é, de forma alguma, proibida.

O senhor que prendeu uma das miúdas e bateu na outra ficou mal disposto ao ver-me tirar as fotos, e que até ali estava em grandes risadas com os amigos, abordou-me com os seus maravilhosos modos “não volta a tirar fotografias, senão fica sem o telemóvel”

Eu

“desculpe? Primeiro não se dirige a mim com esses modos. Depois não volta, sequer a dirigir-se a mim, porque não o conheço de lado nenhum”

Ele

“conhece sim. Sabe perfeitamente quem eu sou. E sabe que também a conheço”

Eu (parece uma anedota. Não parece?)

“não, nao conheço. O senhor está à paisana”

Ele (sempre com uma agressividade…)

“Está a ver como sabe quem eu sou.”

Eu

“deixe-me falar que não acabei. O senhor está à paisana, eu também. Essa senhora também assim como estas pessoas que estão comigo (eram a família das miúdas)

Portanto, a si não o conheço de nenhum lado. A estes dois senhores que estão aqui fardados conheço sim. São dois polícias. Por isso conheço-os como tal. A si não. Por isso não me vai dirigir mais a palavra. Porque eu não quero”

Ele (chegou-se mais pra mim, fez peito, abre os braços e

“fica a saber que a conheço bem. Melhor do que pensa..”

O rapaz, namorado da miúda detida, dá um passo em direção a ele e perguntou

“mas isso é uma ameaça?”

A mãe da miúda

“Orquídea, esta é a pessoa que bateu nas minhas filhas? (farta de saber que sim, mas não se conteve)

Eu, com uma grande calma, respondi

” não sei. Só sei que não o conheço”

E a mãe

“mas o meu coração de mãe diz-me que é ele” 😢

Virei Costas e pedi para atravessarmos para o outro lado da rua. Ou seja, para a beira dos outros polícias que estavam, uns dentro dos carros, outros de fora.

O fulano também atravessa, vai ter com os colegas e diz

“a gaja tirou fotografias, e de certeza que vão ser postas no Facebook”

Meteram-se todos nos carros e motas e foram embora. O fulano voltou para a beira dos seus amigos à paisana.

Entretanto chegou a miúda com o pai, que vinham do Instituto de Medicina legal

E o outro amigo, polícia à paisana virou-se para ele e

“Olha a tua rapariga manca da perna.. (risota)”

E pronto. Aqui estão as fotos no Facebook, tal como ele sugeriu. É só.

Quem puder partilhar, é uma contribuição em prole de uma luta contra as injustiças.

Comunicado da SOS Racismo

SOS RACISMO Condena Atos de Violência e Abuso Policial em Incidente em Cedofeita

18/08/2023 SOS Racismo Comunicados de imprensa

O Movimento SOS RACISMO expressa veemente indignação diante dos recentes incidentes ocorridos em Cedofeita, Porto, que resultaram em atos de violência e abuso policial.

No dia 15 de agosto, o SOS RACISMO tomou conhecimento de um incidente através de uma publicação nas redes sociais de Orquídea Oliveira, que descreve um episódio perturbador envolvendo um cidadão racializado e sem abrigo num supermercado local (parte da cadeia Pingo Doce). O incidente, que deveria ter sido resolvido de forma pacífica e digna, acabou em violência física, com segurança da loja e funcionários imobilizando o indivíduo em questão.

De acordo com relatos de testemunhas, após a intervenção dos funcionários da loja, um contingente da Polícia foi chamado ao local, culminando em mais violência, incluindo agressões físicas a pessoas envolvidas na tentativa de impedir ações excessivas por parte do segurança. Entre as testemunhas, destaca-se Inês Rodrigues que fora agredida após intervir em defesa da irmã (detida por se insurgir contra o modo como a situação estava a ser tratada) e da vítima inicial. Esta circunstância é um exemplo alarmante do abuso de poder e violência policial que ainda persistem em nossa sociedade.

Além disso, no dia 16 de agosto, Inês Rodrigues reportou ter apresentado uma queixa contra a agressão policial na esquadra, onde relata ter sido alvo de chacota por parte dos agentes presentes. A falta de respeito e sensibilidade demonstrada pelas autoridades apenas reforça a urgência de medidas de reforma e de formação no seio policial.

O SOS RACISMO condena categoricamente qualquer forma de violência, discriminação racial e abuso de poder, seja por parte de seguranças privados ou agentes policiais. É inadmissível que indivíduos sejam submetidos a tratamentos humilhantes e desumanos, simplesmente pela sua aparência ou origem étnica.

Reforçamos nossa solidariedade com as vítimas destes atos e expressamos nosso apoio incondicional àqueles que ousam lutar contra o racismo e a injustiça. Exigimos uma investigação transparente e imparcial deste incidente, bem como uma reavaliação profunda das práticas de segurança e das abordagens policiais para garantir que esses incidentes não se repetem.

O SOS RACISMO continuará a trabalhar incansavelmente para defender os Direitos Humanos, combater a discriminação racial e contribuir para uma sociedade mais justa e inclusiva e quer desta forma solidarizar-se com todos aqueles que deram a cara neste caso.

18 de agosto de 2023

Notícias

Esquerda.net: https://www.esquerda.net/artigo/psp-e-seguranca-privada-acusadas-de-violencia-no-pingo-doce-de-cedofeita/87378

Porto Canal: https://portocanal.sapo.pt/noticia/334669?utm_campaign=later-linkinbio-porto.canal&utm_content=later-37236526&utm_medium=social&utm_source=linkin.bio

Lusa: https://www.noticiasaominuto.com/pais/2382276/furto-em-supermercado-leva-a-duas-detencoes-e-queixa-contra-agente-da-psp